O vereador, o médico, o povo sábio e o povo tolo
Li um artigo escrito pelo médico Davi Côrtes, (artigo) do
qual jamais ouvi falar antes. Entretanto, tal fato não tira sua
importância como pessoa no meio social em que vive. No artigo, ele
argumenta que travara um embate virtual com um vereador da cidade e na
sua opinião diz que o vereador “é um oportunista e que tenta pongar na
onda de vilanizar os médicos, descarregando seu veneno e leviandade
desinformada ou mal intencionada sobre as manifestações dos médicos, nos
culpando pelo caos que é a assistência à saúde pública nesta cidade, na
Bahia e no Brasil, desviando a atenção dos verdadeiros culpados”.
Adiante o médico discorre sua via crucis
no trabalho do Hospital Esaú Matos. Segundo ele, não há infraestrutura
no hospital, seu trabalho era mal remunerado, além de ser perseguido por
seu diretor. Alega que tal perseguição ocorreu por causa de suas
convicções políticas. Coloca ainda o fato de que médicos compravam
agulhas e tecidos cirúrgicos para ajudar os pacientes do hospital.
Entendemos que fatos como estes teriam que ser levados a público, no ato
do acontecimento, para que a sociedade pudesse cobrar das autoridades
públicas a solução para o caso, fazer algo como caridade e usar isso em
proveito próprio. Não nos parece salutar. Adiante o médico diz ainda que
o hospital foi privatizado. Isso não é verdade, mas podemos entender
sua percepção em relação ao público e ao privado, porém diz o médico que
não hesitaria em voltar a trabalhar no Esaú Matos e diz que
complementaria sua renda trabalhando em clínicas particulares como
sempre fez, e faz, com isso, uma denúncia grave, de que os médicos
trabalham mais de 60 horas por semana. Fica, a nosso ver, patenteado que
precisamos de “MAIS MÉDICOS”, para que nenhum médico precise trabalhar
tanto. Afinal, o médico não é uma máquina, merece ter uma carga
trabalhista compatível com sua saúde, sua força, e a carga excessiva de
trabalho não é boa para o médico, pior ainda para o paciente que corre o
risco de receber um diagnóstico errado em função de uma avaliação de um
médico cansado. Então, é contraproducente tal atitude, se verdadeira
for.
Por fim, o escriba submete o vereador às
urnas de 14 e 16. Ora, seria muito bom se nós pudéssemos resolver os
nossos graves problemas a cada eleição. Porém, não podemos compactuar
com a ideia de que uma simples divergência de opinião (e nada mais que
isso) pudesse cassar a palavra ou o mandato de um parlamentar. Mas,
enfim, o artigo do ilustre médico diz que o vereador deveria ajudar na
luta, cobrar abertura de UPAS (Unidades de Pronto Atendimento), melhoria
na saúde, lutar por 10% do PIB (Produto Interno Bruto) para a saúde,
uma gestão mais eficiente dos parcos recursos, que, a nosso ver, nem
sempre são parcos pois grande parte desses recursos é desviada na compra
de materiais e serviços superfaturados, isso claro, não especificamente
em Conquista. Enfim, coloca o dedo na ferida, quando diz que se deve
cobrar dos médicos e enfermeiros o cumprimento dos horários de serviço,
fato que nunca ocorreu no Hospital Esaú Matos antes da Fundação que ora
administra o hospital e cobra também dos representantes políticos que
pensem além das conveniências partidárias ou midiáticas ou na reeleição e
conclama a chegada das urnas.
É inegável o valor do médico Davi Côrtes
em seus argumentos, alguns dos quais procedentes, mas outros
equivocados, como por exemplo: não é deixando de atender pacientes ou
clientes e indo para as ruas apitar que se consegue alguma melhoria para
as demandas da saúde, principalmente porque há um contrato entre o
pagamento que o paciente faz, seja direta ou indiretamente, e em
contrapartida o médico se obriga a atendê-lo bem. No mesmo lado as
questões gerenciais devem ser discutidas dentro do âmbito do trabalho
para que surja algum efeito prático. Por fim, é obrigação do médico
conhecer as autoridades constituídas, e considerando que o vereador é
uma autoridade seria prudente que o médico o conhecesse, ainda que não
tivesse relação pessoal, mas deveria ter ouvido falar dele, pois o fato
de desconhecê-lo e colocar essa afirmativa em tom jocoso, não demonstra
grandeza mas sim ignorância e desprezo pela causa pública, uma vez que é
o vereador quem decide as demandas da cidade, votando suas prioridades.
Foi lamentável para nós lermos esse trecho do seu artigo.
Enfim, para uma classe tão
representativa na cidade como é a classe médica, há uma constatação real
de que esta, juntamente com a de advogados, engenheiros e empresários,
não comparecem à Câmara de Vereadores, e quando se faz presente é apenas
para discutir algo pontual que atinja sua classe, jamais numa luta
coletiva para benefício da população. Nas últimas vezes que vimos
médicos, advogados, engenheiros e empresários na Câmara foi para a
tentativa de diminuição do valor do IPTU, ( IMPOSTO PREDIAL E
TERRITORIAL URBANO), este tão aquém do valor dos imóveis dos abastados
da cidade e do ISSQN, ( IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS DE QUAISQUER NATUREZA).
Entendemos que a metáfora proferida pelo
vereador em seu Facebook valeu para que a sociedade soubesse através de
um médico que o gerenciamento da saúde no Esaú Matos era um caos e por
certo providências para melhorar virão. Entendemos mais, que a discussão
comunitária é importante e as vezes as palavras fortes ficam escondidas
na leveza do ser e quando saem dessa esfera provocam cataclismos e
soluções também.
Para concluir, vamos comentar a nota encaminhada pela Associação dos Médicos à Presidência da Câmara de Vereadores, (nota) no
mínimo ingênua, pois demonstra total desconhecimento das leis que regem
o país. Seus signatários não sabem que a liberdade de expressão é
assegurada a qualquer do povo pela Constituição Federal e que a opinião
do vereador, tanto dentro ou fora da Câmara, não depende de anuência do
Presidente da Casa, que não exerce nenhum poder sobre a fala dos
parlamentares, e sob o ponto de vista jurídico nas declarações o
vereador também não praticou crime algum em fazer a afirmação que fez.
Entretanto, os médicos que abandonaram seus postos de trabalho estão
sujeitos a sofrer ações por perdas e danos por quem se sinta prejudicado
pelo não atendimento de suas consultas, uma vez que a paralisação não
foi legal. Desta forma, cada um, à sua maneira, contribuiu para sairmos
do marasmo. Olhamos para todos os lados e encontramos os que fazem por
todos, inclusive pelos tolos e os que fazem quase todos de tolos.
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