sexta-feira, 2 de agosto de 2013

AS CRÕNICAS DE PAULO PIRES

BOLA PELAS COSTAS

Paulo Pires é professor universitário
O futebol sempre foi um excelente fornecedor de expressões lingüísticas para o brasileiro entender um pouco do que se passa no campo da política.
Dito isso, pode-se dizer que a expressão “bola pelas costas” ajuda o povão, ou seja, contribui enormemente para que as grandes massas entendam o momento atual de nossa política como um todo. Em particular ajuda na compreensão da política eleitoral desta cidade de Vitória da Conquista.
Política é um cenário disforme, controverso, mutante. Exige dos seus agentes muita perspicácia, intensa acuidade visual senão perde-se a perspectiva do que está se passando à sua frente (ou por trás). Os instantâneos políticos já foram comparados ao aspecto gasoso das nuvens (comparação essa muito bem aceita).
Política e nuvens mudam a cada segundo. A gente olha e as vê de um jeito. Após alguns segundos ei-las totalmente diferentes. Cabe perguntar: Política é ciência ou ilusão? Ora, se levarmos em conta suas mudanças, diríamos que é mais sugestivo pensá-la como algo onírico, transitório. Mas há discordâncias. Vale lembrar que em algumas de nossas Universidades existem cursos de Ciências Políticas. Ninguém se arvora a dizer que Política não é ciência, embora alguns considerem essa atividade mais relacionada ao campo das Artes.
Ciência, claro, também é algo mudável. Mas pelo menos sustenta hipóteses durante algum tempo. O que hoje é científico pode não ser futuramente. Devemos assinalar, todavia, que a transitoriedade da ciência não é tão acentuada quanto à da política. Muitos enunciados científicos sobrevivem séculos. Em política, enunciados ou conceitos são sempre duvidosos, questionáveis. A maioria deles não resiste muito tempo quando submetidos à verificação ou realidade dos fatos.
A rigor não há conceitos inquestionáveis para explicar “um cenário político”. Quem seria tão imprudente? Quem se arvoraria a afirmar – com segurança – o que vai ocorrer amanhã no campo da política? Ninguém. Os que se julgam ou mostrarem-se afirmativos nesse campo não passam de presunçosos.
Em Conquista os candidatos se movimentam para receber “apoios”. Convém adverti-los sobre o seguinte: A maioria desses apoios deve ser avaliada com serenidade. Fulano de tal do Partido Xis diz que agora vai apoiar tal candidatura. Quando se procura a densidade desse apoio o suposto beneficiário se decepciona. O tal apoiador não tem bala na agulha. Esse apoio é meramente pautado em interesses financeiros ou empregatícios.
Outros são até piores. Dizem que vão apoiar tal candidato (na presença do dito cujo). Quando esse dá as costas, o cara diz bem alto: “Vocês acham que sou maluco?”. Pior é que esse mesmo sujeito debanda para o concorrente mais forte e torna-se desse um dos aliados mais exaltados. Temos esse tipo em grande quantidade. É um oportunista de carteirinha. Não vale uma Cibalena, como diria nosso amigo Hilário.
Desprezível também é a criatura que vive a iludir candidatos. Estes, cegos pela ambição política, não o percebe e pensa que está com a bola toda. Na realidade está recebendo bola pelas costas. Quem conhece futebol sabe que a tal bola pelas costas é um dos lances mais indigestos para o atleta aceitar psicologicamente. Ela passa por cima, o cara fica bobo embaixo vendo-a passar, não pode alcançá-la com a cabeça, nem pode segurá-la com as mãos porque cometeria falta e acaba sentindo-se um sujeito totalmente abobalhado dentro do jogo.
Pobre candidato desavisado. Quando se dá conta vê o adversário indo em direção ao Gol. Corre atrás dele, desengonçado, desesperado, quase arrancando os cabelos, chorando internamente, sentindo o mundo ruir aos pés. Falta-lhe, respiração, fôlego. A arquibancada explode em apupos e o culpa. O infortúnio se aproxima.
Aquela bola pelas costas mata qualquer um. Triste daquele que em um jogo a recebe. Morre culpando-se pela falta de percepção da realidade. Confiança demasiada em outras pessoas. Confiança e despreparo no trato com outros companheiros. Tudo se resume naquela naquele lance. E que lance…
Nada pior para uma pessoa do que se sentir abobalhada. Bola pelas costas tem esse poder. Faz a gente se sentir traído, ludibriado, enganado, um tolo. Que não se engane o candidato: O que mais existe na Política são elas. Prepare-se, examine-se, analise os companheiros (ou falsos companheiros) senão vai acabar levando-a a todo instante. É triste dizer, mas em política eleitoral esse lance existe em demasia… Bola pelas costas…

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