No Alto Tietê, homens recebem apoio da família para cuidar de bebês.
Psicólogo aconselha criar rotina, assumir paternidade e não delegar papéis.
José
Albano perdeu a esposa após complicações no parto das filhas gêmeas,
que estão com 16 dias de vida (Foto: Pedro Carlos Leite/G1)
Aos 29 anos, o vendedor José Pereira Albano se vê na difícil tarefa de
cuidar de duas gêmeas com menos de um mês de vida. O morador de Poá (SP)
passa madrugadas acordado e suas filhas precisam mamar a cada três
horas. Só que, em vez do peito da mãe, Sabrina e Camila recebem
mamadeiras feitas com leite em pó especial para bebês. A esposa de José
morreu devido a complicações no parto. “Está difícil, mas a gente vai
aprendendo com a vida”, diz.
O viúvo está recebendo ajuda da sogra, Maria José,
para cuidar das pequenas Sabrina e Camila (Foto:
Pedro Carlos Leite/G1)
Morador do bairro Jardim Manoel, Albano vive em uma casa de três
cômodos junto a outra residência no mesmo terreno. No total, 11 pessoas
dividem os imóveis. São todos parentes de Maguilene Marcelino, mãe das
bebês, que tinha também 29 anos quando morreu. Os parentes ajudam nos
cuidados com as crianças. “A gente vai conseguir. À noite, minha mãe e
minha sogra me ajudam a cuidar delas”, conta Albano. Juntas, as meninas
consomem 70 mililitros do leite especial a cada mamada. “Conhecidos da
vila estão doando leite e minha ex-patroa também vai ajudar”, conta
Albano, que está afastado do trabalho para cuidar das meninas.para cuidar das pequenas Sabrina e Camila (Foto:
Pedro Carlos Leite/G1)
A mãe de Maguilene, Maria José Luís Marcelino, divide o trabalho de costureira com a atenção às duas netas. “Eu estou o tempo todo com elas, são quietinhas, muito boazinhas. Elas vão ter todo o amor”, diz.
Maguilene tinha 29 anos quando morreu; José
Albano conta com a ajuda de parentes para criar
as bebês (Foto: Pedro Carlos Leite/G1)
O apoio da família - e de mulheres como dona Maria José - é muito
importante para homens que passaram pela experiência traumática de
perder sua companheira e se veem sozinhos na tarefa de criar os filhos.
Quem explica melhor a relação é o psicólogo Agostinho Caporali. "Nós
nascemos para sermos criados por pai e mãe. Uma figura materna é
importante, seja da mãe do pai viúvo ou a sogra. Fará um contraponto. A
mulher tem uma sensibilidade diferente e isto faz muito bem para a
criança", afirma.Albano conta com a ajuda de parentes para criar
as bebês (Foto: Pedro Carlos Leite/G1)
Depressão paterna
Em Suzano, também na região do Alto Tietê, as mulheres da família do autônomo Antônio Carlos Santos da Silva, de 44 anos, que o ajudam a cuidar de sua filha, Manuela, uma bebê de seis meses.
A esposa de Antônio Carlos também morreu devido a complicações no parto. "Depois que minha esposa faleceu, eu não tive vontade de viver mais. Se não fosse minha família, minha mãe, eu não ia aguentar seguir adiante. Foi muito dificil", conta o viúvo, que também recebe ajuda de uma tia.
Antônio Carlos afirma que ainda não está livre da angústia. "Tem dia que eu não quero ver ninguém. Não posso ver na televisão casos como o que aconteceu com minha mulher", diz.
O psicólogo Caporali confirma que o caminho para o homem se reerguer após uma perda tão grande é duro e que buscar apoio psicológico com um profissional pode ser fundamental. "Há casos em que o pai rejeita a criança porque a vê como o motivo da perda da mulher amada. Por isso é importante uma terapia para ele poder colocar tudo para fora, chorar, passar por isso", explica.
Ântonio Carlos e a filha, Manuela (Foto: Arqui-
vo Pessoal)
O desafio de se tornar o principal responsável na criação do filho toma
uma proporção maior quando é aliado à morte da companheira. "Existe ali
uma perda muito grande em tudo. O pai se vê em um papel em que não
estava 100% preparado. Não é natural ele cuidar da prole. A mãe já nasce
preparada para isso. O homem seria um coadjuvante e isso traz para ele
uma insegurança muito grande. Se ele não tiver apoio da família da
esposa, fica muito complicado para ele", continua o especialista.vo Pessoal)
"É importante que o pai assuma seu papel, sua paternidade, e ele não delegue para outras pessoas como avós da criança e outros parentes. Ele precisa criar uma rotina. Existem muitas famílias com a figura do 'pai-mãe' e dá muito certo", conclui Caporali.
Antônio Carlos tem duas grandes aliadas que o ajudam a cuidar de Manuela. "A parte mais trabalhosa é à noite, a preocupação de dar mamar, da criança engasgar. O jeito certo eu aprendi com minha mãe e minha tia. Elas me ajudam, mas já sei fazer tudo", garante.
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