segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

História de Vitória da Conquista, Ba

Primeiros habitantes   

O território onde hoje está localizado o município de Vitória da Conquista foi habitado pelos povos indígenas Mongoyó, Ymboré e Pataxó. Os aldeamentos se espalhavam por uma extensa faixa, conhecida como Sertão da Ressaca*, que vai das margens do Rio Pardo até o Rio das Contas.
Os índios Mongoyó (ou Kamakan), Ymboré e Pataxó pertenciam ao mesmo tronco: Macro-Jê. Cada um deles tinha sua língua e seus ritos religiosos. Os Mongoyó costumavam fixar-se numa determinada área, enquanto os outros dois povos circulavam mais ao longo do ano.
Os Ymboré, também conhecidos como Botocudos, tinham pele morena e o hábito de usar um botoque de madeira nas orelhas e lábios – daí o nome Botocudo. Gostavam de pintar o corpo com extratos de urucum e jenipapo. Eram guerreiros temidos, viviam da caça e da pesca e dividiam o trabalho de acordo com o gênero, cabendo às mulheres o cuidado com os alimentos. Os homens ficavam responsáveis pela caça, pesca e a fabricação dos utensílios a serem utilizados nas guerras.
Já os Pataxó não apresentavam grande porte físico. Fala-se de suas caras largas e feições grosseiras. Não pintavam os corpos. A caça era uma de suas principais atividades. Também praticavam a coleta. Há pouca informação a respeito dos Pataxó.
Os relatos afirmam que os Mongoyó ou Kamakan eram donos de uma beleza física e uma elegância nos gestos que os distinguiam dos demais. Tinham o hábito de depilar o corpo e de usar ornamentos feitos de penas, como os cocares. Praticavam o artesanato, a caça e a agricultura. O trabalho também era divido de acordo com os gêneros. As mulheres Mongoyó eram tecelãs. A arte, com caráter utilitário, tinha importância para esse povo. Eles faziam cerâmicas, bolsas e sacos de fibras de palmeira que se destacavam pela qualidade. Os Mongoyó eram festivos, tinham grande respeito pelos mais velhos e pelos mortos.
Ymboré, Pataxó e Mongoyó travaram várias lutas entre si pela ocupação do território. O sentido dessas lutas, porém, não estava ligado à questão da propriedade da terra, mas à sobrevivência, já que a área dominada era garantia de alimento para a comunidade.
*O nome Sertão da Ressaca pode ser derivado tanto do fenômeno de invasão das águas dos rios sobre o sertão, semelhante ao fenômeno marinho, como da palavra ressaco, que corresponde à funda baía de mato baixo circundada por serras.
Conflitos
O nome Sertão da Ressaca pode ser derivado tanto do fenômeno de invasão das águas dos rios sobre o sertão, semelhante ao fenômeno marinho, como da palavra ressaco, que corresponde à funda baía de mato baixo circundada por serras.
A vinda dos colonizadores portugueses e mestiços à região de Vitória da Conquista está ligada à exploração de metais preciosos, principalmente ouro, e à política de ocupação do território. Um dos responsáveis pelo desbravamento do Sertão da Ressaca foi o bandeirante João Gonçalves da Costa, português nascido na cidade de Chaves, provavelmente em 1720. Ele ficou conhecido como um conquistador violento e dizimador de aldeias indígenas.
João Gonçalves da Costa chegou ao território onde hoje está Vitória da Conquista depois do esgotamento das minas de ouro de Rio de Contas e das Gerais. Ele procurava novos pontos de exploração mineral. Embora não tenha encontrado ouro por aqui, ele acabou ocupando a região e fundando o Arraial da Conquista.
Há um elemento importante sobre João Gonçalves. Segundo os registros históricos, ele era um “preto forro”, ou seja, um ex-escravo. A ascensão política de pessoas como João Gonçalves da Costa dava-se por meio de sua coragem e de sua fidelidade à Coroa Portuguesa. A filiação ao terço Henrique Dias, espécie de irmandade, afirmou sua condição de livre. Em troca, ele agia em nome de Deus e da Coroa, desbravando terras e garantindo a ocupação do território.
A ocupação do Sertão da Ressaca foi realizada às custas da derrota dos povos indígenas. Primeiro, João Gonçalves enfrentou o povo Ymboré. Valentes, resistiram à ocupação do território. Por causa da fama de selvagens, foram escravizados pelos colonizadores. Para piorar a situação, os Mongoyó aliaram-se aos portugueses para derrotá-los.
Depois dos Ymboré, foi a vez dos Pataxó. Eles também resistiram à ocupação estrangeira, mas acabaram se refugiando para o sul da Bahia, onde, em número reduzido, permanecem até hoje, lutando para preservar sua identidade e seus costumes.
Os Kamakan-Mongoyó conseguiram estabelecer relações mais estreitas com os colonizadores a fim de garantir sua manutenção como povo. Ajudaram os portugueses na luta contra os Ymboré. Depois que os portugueses conseguiram dominar os Ymboré e os Pataxó, os Mongoyó foram escravizados e obrigados a trabalhar na abertura de estradas e na derrubada das matas, para que fosse instalada a pecuária. Ao perceberem a traição, organizaram uma reação.
  • O “Banquete da Morte”
Em 1752, ocorreu a batalha que entrou para a história de Vitória da Conquista como uma das mais importantes. Sabe-se que naquele ano, aconteceu uma fatídica luta entre os soldados de João Gonçalves da Costa e os índios. Os soldados, já fatigados, buscavam forças para continuar o confronto. Na madrugada posterior a um dia intenso de luta, diante da fraqueza de seus homens, João Gonçalves teria prometido a Nossa Senhora das Vitórias construir uma igreja naquele local, caso saíssem dali vencedores.
Essa promessa foi um estimulante aos soldados que, revigorados, conseguiram cercar e aniquilar o grupo indígena que caiu, no alto da colina, onde foi erguida a antiga igreja, demolida em 1932. Não se sabe ao certo se essa promessa foi realmente feita, mas essa história tem passado de geração em geração.
O enfrentamento se prolongou até o século XIX. Além dos confrontos diretos, os portugueses utilizaram estratégias como o oferecimento de roupas infectadas com varíola aos índios e até um embriagamento coletivo.
A História nos relata que no período de 1803 e 1806, quando a luta foi intensa, foi realizado o “Banquete da Morte”. Os Mongoyó foram chamados a festejar uma suposta trégua e, depois de consumirem bebida alcoólica, foram cercados por soldados, que mataram quase todos os presentes, inclusive mulheres e crianças. O povo Mongoyó sucumbiu.
No final do século XVIII, o Arraial da Conquista se resumia a uma igreja e algumas dezenas de casas. Nesse tempo, ainda existiam matas densas com fauna e flora bastante ricas.
A paisagem começou a mudar com a chegada dos primeiros rebanhos bovinos. As matas foram derrubadas para dar lugar aos pastos. O Arraial virou passagem para o gado trazido pelos tropeiros de Minas Gerais que iam em direção ao litoral.
O próprio João Gonçalves da Costa, fundador do Arraial, tornou-se proprietário de gado. A família Gonçalves da Costa foi a mais rica produtora de leite e carne da região durante mais de um século.
Crescimento
A cidade foi crescendo lentamente. As primeiras ruas mantendo-se próximas ao leito do Rio Verruga, região que vai da atual Rua Ernesto Dantas até a Avenida Bartolomeu de Gusmão, passando pelo Ceasa. Em 1780, havia cerca de 60 casas no Arraial.
Já em 1840, ano em que o Arraial foi elevado à condição de Vila Imperial da Vitória, distrito da Vila de Caetité, esse número já havia se multiplicado. Além dos colonizadores e seus descendentes e dos negros, a Vila recebeu sertanejos e litorâneos.
Por esses anos surgiram as ruas da Moranga, do Aguão, dos Tocos e da Boiada, respectivamente, as atuais Siqueira Campos, 10 de Novembro, Guilhermino Novaes e João Pessoa. Estas ruas foram surgindo porque são acessos para localidades vizinhas, como Poções, Jequié, Caetité e Ilhéus. Isso mostra que, desde cedo, a cidade tinha uma integração forte com os municípios da região.
Nessa época, além do gado, produziam-se algodão, óleo de copaíba e alimentos necessários à subsistência dos moradores. Os escravos negros foram a principal mão de obra das lavouras e, também, boa parte dos vaqueiros. A herança dos negros está presente em vários aspectos da cultura conquistense e nos mais de dez remanescentes de quilombos do município.
A Vila elevou-se à categoria de cidade em 1891, quando passou a se chamar Conquista. Em 9 de novembro daquele ano, foi instalada a Câmara de Vereadores, sendo esta a data escolhida para o dia da cidade.
Em 1920, Conquista já era considerada uma cidade grande. Dezesseis distritos foram integrados à sede. O comércio se destacou principalmente na venda de produtos agrícolas e pecuários, não só para a população local, mas para os moradores de outros municípios. Em troca, os conquistenses compravam dos tropeiros tecidos, perfumes e novidades vindas da Europa. A localização geográfica é favorável ao comércio e Conquista tornou-se conhecida em outras regiões do Estado.
Nos anos 40, a construção do trecho que liga Ilhéus a Bom Jesus da Lapa (Avenida Brumado) intensifica o comércio e o crescimento da população. Nesse período, o município passa a se chamar Vitória da Conquista.
Rio-Bahia impulsiona o desenvolvimento.
Mais tarde, a abertura da Rio-Bahia (Avenida Presidente Dutra) também impulsionou o crescimento da cidade. A obra foi inaugurada pelo presidente João Goulart, em 1963, reforçando a posição de Vitória da Conquista no cenário regional. Com as duas rodovias-avenidas, Conquista recebeu um novo contingente humano formado por baianos, mineiros, paulistas e nordestinos de diversos estados, especialmente sergipanos e pernambucanos.
Até a década de 1960, a maior parcela da zona rural de Vitória da Conquista ainda era ocupada por pastagens, pela agricultura de subsistência e pelo cultivo de mandioca e de mamona.
Em 1972, Vitória da Conquista foi contemplada pelo Plano de Renovação e Revigoramento da Cafeicultura, do Governo do General Médici. O objetivo do plano era ampliar a área semeada de café, produto bastante valorizado nesse período. Foram oferecidos subsídios aos interessados em abrir cafezais. Isso fez com que muita gente passasse a cultivar café nos municípios de Vitória da Conquista, Planalto, Poções e no recém-criado Barra do Choça, entre outros.
As lavouras de café multiplicaram-se em poucos anos. Em 1975, em Conquista, foram colhidas 840 sacas; em 1983, esse número subiu para 13.179. Muitos cafeicultores enriqueceram.
Pressionados pelo poderio dos novos produtores, pequenos agricultores foram tirados de suas terras, seja por meio da compra e venda, quando eram proprietários, seja pela expropriação, no caso dos não proprietários. Homens, mulheres e crianças eram contratados temporariamente, com proventos que variavam de acordo com a fase trabalhada, entre o plantio e a colheita.
Crise do café: setor de serviços se amplia
Em abril de 1980, trabalhadores rurais de Vitória da Conquista e Barra do Choça realizaram um grande movimento grevista, exigindo diária mínima de Cr$ 2 mil (dois mil cruzeiros); equiparação salarial entre homens e mulheres; hora-extra e benefícios; escolas e água potável. Números inexatos dão conta de 10 mil grevistas. Os cafeicultores foram obrigados a reconhecer os direitos dos trabalhadores.
Com a crise do café, a partir do final dos anos 1980, o município realça sua característica de polo de serviços. A educação, a rede de saúde e o comércio se expandem, tornando Conquista a terceira economia do interior baiano. Esse polo variado de serviços atrai a população dos municípios vizinhos.
Paralelamente à expansão da lavoura cafeeira, um polo industrial passou a se formar em Vitória da Conquista, com a criação do Centro Industrial dos Ymborés. A partir dos anos 1990, os setores de cerâmica, mármore, óleo vegetal, produtos de limpeza e estofados entram em plena expansão.
Cronologia
1752 – Famosa batalha entre os soldados comandados por João Gonçalves da Costa e os índios que habitavam a região de Vitória da Conquista.
1780 – Surgimento das primeiras ruas na região próxima ao leito do Rio Verruga (atualmente, da Rua Ernesto Dantas à Avenida Bartolomeu de Gusmão, passando pelo Ceasa). Nesse ano, especificamente havia cerca de 60 casas no Arraial.
1803 – Início da construção da igreja em homenagem a Nossa Senhora da Vitória.
1808 – Tem início a criação comercial de gado.
1817 – Visita do príncipe alemão Maximiliano de Wied-Neuwied. Em relatos, o príncipe revela que o povoado tem cerca de 40 casas, uma igreja em construção e serve de ponto de passagem para boiadas.
1832 – Criada a primeira escola pública de Conquista.
1840 – Lei provincial eleva o arraial à categoria de vila e freguesia, passa a se chamar Vila Imperial da Vitória e ocorre o desmembramento da cidade de Caetité. Em 9 de novembro, é instalada a Câmara de Vereadores.
1877 – Instalada a primeira agência dos Correios.
1882 – A Vila da Conquista passa a ter sua própria Comarca.
1891 – Emancipação política: a vila passa a ser cidade com o nome de Conquista.
1892 – Eleito o primeiro intendente municipal, o coronel Joaquim Correia.
1895 – Briga entre familiares termina em tragédia, conhecida como Tragédia do Tamanduá.
1900 – Instalação da Primeira Igreja Batista.
1910 – Fundado o primeiro jornal de Conquista.
1911 – Maximiliano Fernandes é o primeiro intendente eleito pelo povo.
1912 – Surge o primeiro cinema da cidade.
1914 – É fundada a Santa Casa de Misericórdia.
1919 – Chega a energia elétrica e tem início uma luta entre famílias, conhecidas como Meletes e Peduros.
1920 – Dezesseis distritos foram integrados à sede.
1925 – Chegada do primeiro automóvel a Conquista.
1926 – Aberta a estrada que liga Conquista a Jequié. Chegada do telégrafo.
1927 – Inaugurada a primeira rádio da cidade. Surge o primeiro bloco carnavalesco.
1930 – É aberta a estrada que liga a cidade ao arraial de Barra do Choça e é instalada a primeira agência bancária: o Banco Econômico da Bahia. Deraldo Mendes é eleito o primeiro prefeito após a Revolução de 30.
1932 – Juraci Magalhães, então governador da Bahia, visita Conquista. É a primeira vez que um chefe do Executivo Estadual vem à cidade.
1933 – Realizada a primeira edição da Exposição Agropecuária.
1939 – Inaugurado o primeiro campo de aviação.
1940 – Abertura da estrada que liga Ilhéus a Bom Jesus da Lapa.
1943 – Lei estadual modifica o nome do município para Vitória da Conquista.
1944 – Finalizadas as obras da nova Igreja Matriz.
1947 – Pesquisadora registra a temperatura de dois graus numa madrugada de inverno.
1950 – Getúlio Vargas passa por Vitória da Conquista em campanha presidencial.
1954 – Realizada a primeira Semana Espírita.
1957 – Chegada da telefonia fixa.
1963 – Inauguração da BR-116 com a presença do presidente da república, João Goulart. Inauguração do Estádio Lomanto Júnior.
1964 – O prefeito José Pedral Sampaio é cassado pela ditadura militar e fica sem direitos políticos por dez anos.
1969 – Foi criada a Faculdade de Formação de Professores, com os cursos de Letras e Ciências Sociais.
1970 – Chegada das primeiras mudas de café para serem plantadas na região.
1971 – Criação do 9º Batalhão da Polícia Militar.
1972 – Vitória da Conquista é considerada o principal município do Centro-Sul baiano.
1975 – É implantado o Distrito Industrial dos Imborés.
1979 – Inaugurado o Aeroporto Pedro Otacílio de Figueiredo.
1980 – A Faculdade de Formação de Professores se transforma na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. É fundada a Academia Conquistense de Letras. Inauguração do Ginásio de Esportes Raul Ferraz. Inauguração do Cristo, de Mário Cravo, erguido no alto da Serra do Periperi.
1986 – Inaugurado o Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima.
1988 – Murilo Mármore é o primeiro prefeito eleito no período pós-redemocratização. Instalada a primeira sucursal regional de um canal de televisão (TV Cabrália).
1989 – Realização da primeira micareta da cidade.
1992 – Inaugurado o Hospital Esaú Matos.
1994 – Criado o Hospital Geral de Vitória da Conquista.
1996 – Implantada a unidade do Centro Federal de Educação e Tecnologia da Bahia (CEFET).
1999 – O sistema público da Saúde de Conquista passa a atender oficialmente 60 municípios baianos.
2002 – Inaugurado o Anel Rodoviário.
2004 – Implantado o curso de Medicina da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.
2005 – Primeira edição do Festival de Inverno Bahia.
2006 – Aberto o primeiro grande shopping center da região Sudoeste.
2007 – Vitória da Conquista volta a disputar a primeira divisão do Campeonato Baiano de Futebol. É implantado o campus da Universidade Federal da Bahia.
2008 – Em pesquisa nacional, a cidade figura entre os dez municípios mais dinâmicos do Brasil.
2010 – Durante campanha presidencial, os três principais candidatos visitam Vitória da Conquista.
Fonte: http://www.pmvc.ba.gov.br/v2/primeiros-habitantes/


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