sábado, 28 de março de 2015

A Força do Pedralismo nas eleições municipais de 1988

Vitória da Conquista


O então Deputado Federal Ulysses Guimarães, em 1988, que fora presidente da Câmara dos Deputados (1956-1957, 1985-1986 e 1987-1988) e presidente da Assembleia Nacional Constituinte 1987-1988, discursa em comício da campanha para prefeito de Murilo Mármore, em 1988, ano da promulgação da atual Constituição, na Praça Barão do Rio Branco
O então Deputado Federal Ulysses Guimarães, em 1988, que fora presidente da Câmara dos Deputados (1956-1957, 1985-1986 e 1987-1988) e presidente da Assembleia Nacional Constituinte 1987-1988, discursa em comício da campanha para prefeito de Murilo Mármore, em 1988, ano da promulgação da atual Constituição, na Praça Barão do Rio Branco
Colocada em segundo plano no ano eleitoral de 1986, no ano seguinte, as movimentações, articulações e composições, na perspectiva da sucessão do Prefeito Hélio Ribeiro, foram retomadas. No dia 30 de maio de 1987, ocorreu uma reunião do PMDB para analisar as candidaturas, emergiram naquele momento três postulantes: Carlos Murilo Mármore, presidente da EMURC (Empresa Municipal de Urbanização de Vitória da Conquista); Antônio Dantas e o ex-prefeito Gildásio Cairo. O Secretário de Transportes do Estado, José Pedral, esteve presente, conforme o jornal “Tribuna do Café” em sua edição de29 de maio de 1987.
Considerado o mais provável candidato à sucessão de Hélio Ribeiro pelo PMDB, com o apoio declarado da cúpula do Diretório, do Secretário de Transportes, José Pedral Sampaio, do Prefeito, do deputado Coriolano Sales e do presidente da legenda, José Willian Nunes, Murilo aguardou o apoio de outros membros, como do ex-prefeito Gildásio Cairo, para declarar-se candidato, tudo de acordo com o jornal “Tribuna do Café”, edição de 10 de julho de 1987.
Emergiram vários candidatos e aprofundaram-se as disputas nos bastidores. O deputado federal Coriolano Sales vinha sendo reconhecido como nome de consenso, mas outros surgiram: o deputado estadual Sebastião Castro, o ex-deputado federal Elquisson Soares, Clovis Assis – que afirmou só abrir mão de sua candidatura em favor de Raul Ferraz, caso contrário, continuaria na luta para fazer vinte mil filiações e tomar o Diretório – Aliomar Coelho e Clovis Flores, que também se destacaram e contariam com o apoio de Sebastião Castro e Elquisson Soares que não apoiaram o presidente da EMURC (jornal “Tribuna do Café”, edição de 3 de setembro de 1987). Mármore, no entanto, foi o candidato oficial do Pedralismo. Para Clovis Assis, Sebastião Castro se fortalecia enquanto estava junto com ele no PMDB, mas Sebastião não admitia chefe, não deixando explícito, estava se referindo a Pedral ou a Clovis Assis. Elquisson afirmou que, no dia 20 de dezembro de 1987, Sebastião entraria no PDT e seria o candidato do partido à Prefeitura e, se vitorioso, lutaria contra a candidatura de José Pedral ao governo do Estado. O vereador Everardo Públio de Castro garantiu que se afastaria de Sebastião, caso ele ficasse à sombra do ex-deputado Elquisson. Osvaldo Pedro declarou-se descontente com o PMDB e Clovis Assis garantiu que, caso não vencesse a convenção do PMDB, sairia do partido (jornal “Tribuna do Café”, edição de 9 de dezembro de 1987).
Clovis Assis se afirmava como possível candidato. Na convenção do PMDB marcada para o dia 31 de janeiro de 1988, o ex-secretário de saúde do governo Raul Ferraz era proprietário da Clínica de Urgência Pediátrica (CUPE). Sebastião Castro, de fato, foi para o PDT, cuja candidatura a Prefeito foi lançada em convenção do seu partido em dezembro de 1987.
Líderes de associações de moradores, maçonaria, sindicatos, clubes de serviços e funcionários públicos municipais apoiaram Murilo e Pedral. A participação das entidades foi uma demonstração do nível de aparelhamento e da capilaridade do Pedralismo na cidade (“Tribuna do Café”, edição de 26 de julho de 1988).
No dia 27 de março de 1988, aconteceu no Ginásio de Esportes a esperada e movimentada Convenção do PMDB, onde se escolheriam os novos membros do Diretório e, consequentemente, o grupo político que teria força para escolher o candidato a prefeito. O evento foi agitado com o circular de carros, ônibus e vans, e pela ação dos cabos eleitorais das chapas 01 e 02. Chapa 01 bancada pelo médico Clóvis Assis e a Chapa 02 da cúpula do partido com Pedral, Hélio, Raul, Coriolano, Gildásio e Murilo, articulação que obteve vitória com a margem favorável de 395 votos (“Tribuna de Conquista”, edição de 2 de abril de 1988).
No dia 22 de maio de 1988, no auditório da Secretaria Municipal de Educação e Cultura, a cúpula do PMDB de Vitória da Conquista se reuniu para debater a sucessão municipal. A reunião foi motivada pelos comentários do deputado Raul Ferraz nas rádios, afirmando que o PMDB estava acéfalo. O evento foi uma demonstração da coesão do partido na campanha por Murilo Mármore e Clovis Flores (jornal “Tribuna de Conquista”, edição de 2 de junho de 1988), que teriam suas candidaturas homologadas formalmente no inicio de agosto em frente partidária formada pelos partidos PMDB, PSDB, PDC e PSB, em Convenção na Câmara de Vereadores, onde foi realizado um ato político com a presença de cerca de 10.000 pessoas e show com Luiz Gonzaga, Carlinhos Axé e Banda Rastafári (“Tribuna do Café”, edição de 11 de agosto de 1988).
Os antigos arenistas, após a vitória de Waldir e diante do predomínio pedralista em Conquista, tentavam se reerguer, mas conservando sua velha tradição, encontrava em sua divisão em diversas facções o principal limitador de sua reação. Liderados do deputado Leônidas Cardoso, magoados com o que consideravam traição dos antigos carlistas que apoiaram a campanha de Waldir, decidiram que iriam se separar de Margarida Oliveira. Na nova conjuntura pós-86, os “margaridistas” desejavam uma união com o PDT, do deputado Sebastião Castro, e os “cardosistas” buscaram se aproximar do PMDB pedralista (“Tribuna do Café”, 16 de dezembro de 1986).
A delegada do Ministério da Educação na Bahia e candidata à Prefeitura de Vitória da Conquista em 1982, Margarida Oliveira, era a presidente do PFL. Foi convidada por Antônio Carlos Magalhães para assumir a coordenação administrativa regional do partido. A perspectiva era fortalecer o PFL para as próximas eleições municipais. A dirigente partidária buscou, junto ao DENTEL (Departamento Nacional de Telecomunicações), a concessão de uma emissora de rádio para Vitória da Conquista. Com apoio do seu padrinho político e Ministro das Comunicações e apoio financeiro do deputado federal João Alves de Almeida, fundaria a emissora FM 100,1 (“Tribuna do Café”, edição de 28 de janeiro de 1988).
Outro bloco de antigos arenistas partiu para fundar o Partido Social Cristão, dirigido na cidade por Aloísio Pereira, Jesiel Norberto (ex-vereador pela Arena), Altamirando (Iran) Gusmão (outrora Arena, PDS e PP, deputado estadual pelo PMDB) e Manoel Augusto (candidato a prefeito pelo PDS em 1982), conforme o jornal “Tribuna de Conquista”, edição de 7 de junho de 1987. Outro bloco aderiria ao PTB, que realizou Convenção em 24 de abril de 1988 e elegeu diretório: Mássimo Ricardo Benedictis (presidente); José Augusto Alves Fagundes (vice-presidente); Anabel Andrade (secretária); Alberto Nápoli (tesoureiro) e Carlos Nápoli (delegado). Segundo Carlos Nápoli, o partido pretendia ter candidato próprio para a Prefeitura. O PDS, em processo de reestruturação, segundo o ex-vereador e ex-presidente da Câmara Municipal, Altamirando Novais, também pretendia ter candidato próprio (“O Jornal de Conquista”, edição de 13 de maio de 1988).
Raul Ferraz e Sebastião Castro se uniram para derrotar Pedral Sampaio e Murilo Mármore, nas eleições municiais de 1989
Raul Ferraz e Sebastião Castro se uniram para derrotar Pedral Sampaio e Murilo Mármore, nas eleições municipais de 1988. Na foto aparece ainda o jornalista Gildásio Fernandes (de camisa vermelha)
A trajetória do candidato Sebastião Castro, desde as eleições de 1976 e 1982, havia sido marcada por um discurso que o colocava como mais autêntico oposicionista que Pedral e seu grupo, a quem acusava de personalista e cacique político. Todavia, na campanha de 1988, formou a frente partidária “União da Conquista rumo à Prefeitura”, que colocou o PDT explicitamente aliado aos partidos das diferentes facções dos velhos arenistas e carlistas da cidade: PFL, PSC, PTB e PL (“Tribuna do Café”, edição de 6 de outubro de 1988), o que comprometia a imagem que se tentara construir até então. Uma das primeiras exigências dos novos aliados foi excluir o PC do B da campanha de Castro, condição prontamente aceita. Os comunistas foram apoiar a candidatura de Mármore. Sebastião já havia aceitado ser nomeado pelo Governador João Durval para Conselho da UESB (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia) como representante da comunidade, mas tal episódio era pouco conhecido e sequer lembrado, o aproximar-se explicitamente de um bloco dos partidos da direita, o transformava no candidato carlista em Conquista. No entanto, se esta marca ficou para Sebastião, não apenas ele se aproximou dos velhos arenistas. Se Tião com Eduardo Khoury foi buscar apoio de Edvaldo Flores, também o fez Murilo Mármore, acompanhado por José Pedral, buscar o apoio do ex-Governador, oferecendo uma secretaria à indicação do partido. Edvaldo Flores ponderou que, no caso de união PDS-PMDB, Antônio Carlos Magalhães (PFL) e autoridades do PDS não poderiam ser atacados nos palanques. Murilo e Pedral garantiram que a união era restrita às questões locais. Edvaldo marcou reunião com o vice do partido, Altamirando Novais, para decidirem entre Murilo e Tião (“Tribuna do Café”, 19 de outubro de 1988). O presidente do PDS acertou com Pedral, Murilo e Clovis Flores. Hélio Ribeiro partiu para convencer velhos pedessistas, como Nilton Gonçalves, Lurdes Novato e Terezinha Mascarenhas (professoras da rede estadual), Ademário Santos e Antônio Nápoli, conseguindo o apoio a Murilo. Sem candidatos próprios, os velhos arenistas se dividiram: PDS com Murilo e PFL com Sebastião (Tribuna do Café, 2 de novembro de 1988).
Desde a implantação do pluripartidarismo, no final de 1979, que o transitar de velhos emedebistas e velhos arenistas entre os campos, outrora opostos, havia se tornado comum, inicialmente de forma individual ou em pequenas facções. Quando da implantação da Nova República e da campanha de Waldir Pires ao governo do Estado, a movimentação tornou-se mais massiva e explicita. Até mesmo em Vitória da Conquista outrora propalada como “Esparta Baiana e baluarte da oposição”, o pragmatismo campearia e o misturar dos velhos naipes seria lugar comum nos novos jogos eleitorais.
A apenas uma semana do pleito, a crença numa vitória fácil de Sebastião, era grande entre os seus aliados. Said Sufi (PDT) proclama: Nossa vitória está consumada e a vantagem estará em torno de oito mil votos. Iran Gusmão seguia na mesma trilha (PSC): Tião vencerá com mais de sete mil votos(jornal “O Radar”, edição de 9 de novembro de 1988).  A disputa se acirrava com os grandes comícios – PMDB na Praça Barão do Rio Branco com Ulisses Guimarães e o PDT na Praça do Carvão (Bairro Brasil) com o Governador Waldir Pires (Tribuna do Café, 2 de novembro de 1988). Resultado: Negando todos os prognósticos realizados ao longo da campanha, Murilo Mármore foi eleito Prefeito de Vitória da Conquista, com 25.252 votos, Sebastião Castro conquistaria 20.315, Walter Pires – candidato do então minúsculo PT – 918 (Tribuna do Café, 18 de novembro de 1988). A liderança de José Pedral Sampaio chegava ao seu apogeu em Vitória da Conquista, mas os limites do governo Waldir e as contradições internas no município começavam a indicar as trilhas de futura decadência.

http://tabernadahistoriavc.com.br/page/6/

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